segunda-feira, 9 de julho de 2007

Primância

Se eu pudesse escolher, seria como a minha prima. Minha prima, sempre viveu numa cidadezinha aqui da região, nunca teve a oportunidade de frequentar um bom colégio, nunca leu uma obra machadiana, e tão pouco sabe quem é Marx ou Freud, ou Nietzsche, ou qualquer outro que seja. Porém, existe algo nela que me causa uma certa inveja... Ela é uma pessoa feliz. Uma pessoa que vive no seu mundo limitado, mas que esta sempre com um sorriso no rosto, uma pessoa que não se preocupa com a vergonha que é a política nesse país, que namora um fulano X, sem se preocupar se ele parece/é um idiota, que lê suas revistas Capricho, que escuta "hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bunda lelê" sem se perguntar "meu Deus, como alguém pôde compor isso?", que certamente numa tarde tediante de segunda-feira, liga a TV e consegue assistir os filmes sem conteúdo algum e ridiculamente dublados da Sessão da tarde, sem pensar "que merda, eu preferiria estar lendo".
Já eu, mesmo não sendo um poço de cultura (talvez nem uma poça), com o pouco que absorvi naqueles anos de aula ali no Ceta Anglo, and learning English in Marlene's house, e lendo revistas mais selecionadas, e livros, e indo a teatros e museus, e vendo filmes críticos e ouvindo Legião Urbana com os irmãos, percebo que não sou uma pessoa lá muito feliz, porque tudo eu me questiono, tudo eu critico, e não me contento com pouco. Quero viajar o mundo, conhecer novas culturas, seleciono demais as pessoas com quem converso, os filmes que vou ver, as músicas que vou escutar, o namorado que vou amar (se não for interessante, sensível, poeta, conhecedor de mundo e não gostar do filme Clube da Luta, não há hipóteses de eu me apaixonar), não aceito tudo que é imposto, não me contento em fazer parte da massa, e principalmente me sinto deslocada por usar óculos em festas, não querer ter uma nádega grande, usar roupa de brechó, não conhecer o novo hit da kelly Key, e preferir Chaplin e Keaton ao invés dessas comédias americanóides de jovens colegiais fazendo sexo e dizendo basbaquices.
Eu gosto muito de ler a Caros Amigos, o Zé Simão, o Jabor, García Márquez, Lispector, Nelson Rodrigues, Eça de Queiroz, e Victor Hugo, mas confesso que também leio Harry Potter. Até porque ninguém vive só dos clássicos, e eu tenho lá minha humanidade e a minha clichêdade. E só para constar: também gosto de neologismos. Mas, penso eu, que pelo menos leio o Potter que é clichê mas não é sujo igual aquele da Bruna Surfistinha que vende mais que água no deserto, e que o povo brasileiro ama. Minha prima mesmo, disse certa vez "admiro essa Bruna, conseguiu sair da vida da prostituição, coitada!"com aquele ar de ingenuidade e aquela felicidade que eu tanto invejo.
Ah! Como eu queria ser igual a minha prima... Mas não, eu sou alguém que ama Laranja Mecânica, Edukators, Matrix, e valoriza o cinema nacional. Porém, decididamente, eu queria ser pop, e ter olhos e ouvidos e cérebro feito penicos, iguais da minha prima, e ao ver Legalmente loira, com a galera, não achar o filme um lixo visual, e ao escutar Britney Spears, cantar em inglês errado até ficar rouca.
Só que infelizmente, esnobe que sou, gosto do Chico Buarque e do Raul Seixas, sendo que um já nem faz shows, e o outro, já morreu. Que Deus o tenha. Amém!

8 comentários:

Awmergin disse...

Tens tudo de que necessitas para seres feliz. Não desejes ser outra pessoa. Sejas tu mesma e dependas apenas de ti mesma para seres feliz.
A Felicidade não está em algum lugar, em alguma coisa, ou em alguém.
Ser feliz é uma questão de DECISÃO INTERIOR. Temos de nos propôr a sermos feliz e o sermos.
Eu prefiro sofrer, mas com cosciência, a ser um 'pseudo-feliz' inconsciente.
Eu diria que entre tu e tua prima, és tu mesma a mais agraciada pelo Destino, pois tiveste acesso às beneces da Civilização. Todavia, é teu Dever utilizar estas beneces ao teu favor, para que possas atingir, por mérito próprio, a tão almejada Felicidade.
No que eu puder, ajudar-te-ei neste Caminho.
Meus votos de Paz e Luz a ti, querida e bela Marcela

Marcela disse...

Quanto mais estudamos, mais carga social temos que aturar...

Lucas Ferdinandi disse...

Pessoas inteligêntes tem aspiração por suicidio :D
Pois veem a vida de uma maneira patética e sem sentido.

Awmergin disse...

Somente os débeis têm tendências suicidas.
Os fortes estudam e são inteligências poderosas na construção de uma sociedade melhor.
Todo suicida é um covarde, que se evade da Vida por não ter força para suportá-la em suas vissicitudes.
Este Hi Fi Honor tem de rever seus conceitos. Se não os rever, a Vida fará isso...
Marcela, todos carregamos cargas. Cabe a nós carregarmo-as com um sorriso no rosto e cantando.

-fer- disse...

bom... pelo menos fique com o conforto(ou não) de que me sinto igual a vc, embora eu tenha achado a cidade e as serras do eça meio entediante, não li os miseraveis, to com preguiça e um pouco de receio de ler os livros da fase romantica do machado e não achei carioca do chico tão bom por isso escuto sempre a opera do malandro.
e tambem to na expectativa do ultimo livro do potter... hehehe
mas nem ligue pra essas coisas, não somos nós que somos pessimistas, o mundo é que é péssimo...
como diria o falecido tom....
Ignorance is bliss.....


and kiss ....
:***

Rodrigo P. Marques disse...

 

eu queria ser como o vento, mas isso foi um dia desses...

=*

 

Anônimo disse...

a felicidade é fruto da ignorância.
E isso é fato.
:)

Desertos Verdejantes disse...

Olá Marcela!
Belíssima crônica...
mas naum sinta -se soh... naum eh a única....infelizmente vivemos num país onde naum se valoriza a boa cultura...e nos saum impostos o que ah de pior sempre....
bjaum!!!