quarta-feira, 23 de maio de 2007

Lúgubre lembrança

Eu era um menino de apenas seis anos de idade quando meu avô morreu, e eu ainda lembro daquele dia como o sabor do vinho que acabei de beber.
Lembro me de estar brincando de carrinho com aquela inocência que só as crianças possuem, e de ver meu avô andando alucinadamente, cambaleando de embriaguez pelo corredor da casa em direção ao quarto, enquanto abria um frasco com aquelas mãos tremulas. Na época eu não entendi muito bem, mas o que me chamou a atenção foi que ele encheu a mão direita de um numero incontável de pílulas e jogo-as na boca derrubando a maioria pelos vãos dos dedos, e espalhando-as pelo corredor, como algo que me lembrava muito as chuvas de confete de dias felizes. Depois disso, ele entrou no quarto, ouviu-se um estampido, um "baque" surdo e logo em seguida os gritos estéricos da mamãe... Ele suicidou-se com um tiro na cabeça, logo após tomar doses de uísque e os comprimidos de coragem. Alucionou-se e faleceu.
No começo eu não era capaz de compreender como alguém teria coragem de fazer o que ele fez, mas hoje, aos vinte oito anos de idade, consigo no mínimo tirar uma pequena lição dessa experiência e das muitas outras que eu tive nessa vida. Eu descobri que, nem tudo que parece confete, faz-se Carnaval.


Baseado em uma história real.

3 comentários:

Unknown disse...

Compartilhar momentos e inspirações é o que há...parabéns.

Fantástico Spider Woman!

Unknown disse...

muito bom, muito bom.

gostei, principalmente, da conclusão.
:)

Rodrigo P. Marques disse...

 

'eu descobri ...'

o termo central dessas tuas belas palavras, e da vida, a vida que é bela e que não espera mais...