As Cem Suradas de Atenas

Antes de mais nada, é preciso que o leitor compreenda que a história que contarei, é verídica mesmo sendo inventada. E que ela foi passando de mãe para filha durante séculos e séculos, para que jamais as mulheres do mundo esquecessem Helena...
Então querido leitor, sendo você homem ou mulher, preste muita atenção a essa história, porque toda história mesmo sendo contada várias vezes só é contada uma vez. E a versão feminina desta (que aliás, só poderia ser feminina, já que eu sou mulher e ouvi a história de minha mãe que ouviu de minha avó) é tão triste quanto os olhos de Péricles ao descobrir que jamais teria Helena.
Acontece, que há muitos e muitos anos, mais precisamente em 506 a.C., na pródiga cidade de Atenas, havia uma mulher, e essa mulher era a mais linda e inconformada de toda a Grécia. Como todos devem saber, Atenas, que era o centro cultural, político e econômico dentre as pólis, era também uma das sociedades mais machistas do mundo Grego (um grande paradoxo). E isso deixava a jovem Helena cada vez mais inconformada. Numa noite ela orou para que a deusa Atenas, lhe desse sabedoria para lutar contra uma sociedade tão injusta que subjugava as mulheres. Atenas ouviu o pedido da jovem e a fez líder de um grupo de cem Suradas, cem soldadas do ideário feminista, que lutariam para que homens e mulheres tivessem direitos iguais... Sabe-se que Péricles, apaixonou-se por Helena, que o rejeitou por amar uma das Suradas, como vingança Péricles reuniu mil homens que mataram cada uma das cem, e por fim sua líder, antes mesmo destas espalharem suas idéias ao mundo.
Mas, o que Péricles não previa é que uma delas sobreviveu, fugiu, e contou sua história para sua filha, na esperança de que um dia, fosse naquela vida ou em outra, homens e mulheres, fossem tratadas igualmente...
Séculos e séculos se passaram e ainda hoje, algumas decendentes daquela surada, continuam a lutar... Mas, até quando!?
Chico Buarque de Hollanda ainda não sabia essa história quando cantou: "Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas. Quando amadas, se perfumam. Se banham com leite, se arrumam. Suas melenas. Quando fustigadas não choram. Se ajoelham, pedem, imploram. Mais duras penas. Cadenas."
E muitos ainda não sabem...